Na semana passada, assistimos a mais um capítulo dramático da verdadeira saga vivida pelo setor sucroenergético. Um capítulo que, em parte, foi escrito graças à falta de políticas governamentais para salvar o setor, que tem sido um dos alicerces da economia brasileira e que, por razões incompreensíveis, acaba menosprezado, entregue à própria sorte.
Venda pública, em segunda praça, permitiu que o barracão da mecânica pesada da empresa Dedini, na Vila Rezende, fosse arrematado em leilão realizado na Central de Hastas Públicas, em São Paulo, por R$ 12,3 milhões, ou seja, 50% do valor de avaliação, de R$ 24 milhões.
O prédio – de 10 mil m², localizado entre as avenidas Mário Dedini, Santo Estevão e Lourenço Ducatti – é um dos imóveis do grupo em processo de leilão devido a dívidas com a União. O valor do débito relacionado é (conforme atualização em outubro deste ano) de R$ 12 milhões.
Sim, a Dedini, líder mundial no fornecimento de equipamentos para o setor sucroalcooleiro, com capacidade para produzir e instalar 12 usinas completas por ano, usinas responsáveis por 80% da produção nacional de etanol, está vivendo esse drama.
Claro que muitos vão insistir em outros motivos, falar de desacertos na gestão. Mas o que acontece hoje com o Grupo Dedini está diretamente relacionado com a falta de incentivo, com um certo desprezo conferido a um setor estratégico.
Por meio de sua assessoria, a empresa informou que “em seus 94 anos de trajetória, sempre venceu desafios” e que “tem realizado esforços para equacionar seu passivo tributário e superar as dificuldades impostas pelo atual cenário, que afeta o setor sucroenergético”.
Disse, também, que vai manter as atividades, bem como os compromissos assumidos com clientes e colaboradores, e que aguarda as decisões judiciais dos agravos referentes aos processos que envolvem o leilão.
Ao olhar mais atentamente a situação da Dedini, precisamos avançar no que ocorre com toda a cadeia produtiva, a começar com seu primeiro elo, os canavieiros, afundados em dívidas e sem socorro governamental, sem fôlego para manter a produção.
Uma estimativa feita pelo setor dá conta de que fecharemos o ano com um saldo de mais 12 usinas em risco de encerrar suas atividades. Não podemos mais esperar até que todas quebrem. O desgaste social é brutal e os empregos perdidos impactam negativamente nas cidades e regiões, em toda a economia. Segundo a Única (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), em 2010 o setor sucroalcooleiro empregou mais 500 mil pessoas no Estado de São Paulo.
A tantas perdas, somamos uma ainda maior: todas as tentativas de diálogo foram inúteis e o governo não se mexeu para atender aos pedidos de socorro do setor, que exige uma ação mais contundente.
Uma única luz foi acesa este semestre, com a aprovação de projeto de nossa autoria, de aumento da mistura de etanol anidro na gasolina, de 25% para 27,5%. Mas precisamos muito mais.
Precisamos de tributação diferenciada, incentivo ao desenvolvimento de programas de tecnologia automotiva, disseminação da bioeletricidade. Precisamos de respeito e apoio para uma das válvulas propulsoras da nossa economia, um setor que entre seus grandes representantes tem o Grupo Dedini, genuinamente piracicabano, merecedor de respeito e de apoio urgente.
Antonio Carlos Mendes Thame é professor (licenciado) do Departamento de Economia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, deputado federal (PSDB/SP) e presidente do capítulo brasileiro da Organização Global de Parlamentares contra a Corrupção (GOPAC).