Antonio Carlos Mendes Thame
Faço questão de deixar registrada minha gratidão por ter recebido a Medalha 250 Anos de Piracicaba. Infelizmente, por compromissos assumidos em Brasília, não pude estar presente em uma data tão importante para a cidade, onde nasci, constitui minha família e tive a formação profissional e intelectual que garantiram as bases para que eu pudesse representar nossa região no Congresso Nacional. Nesta cerimônia, fui representado pela minha esposa, a vereadora Nancy Thame, que compartilhou comigo a emoção da homenagem.
Agradeço também aos piracicabanos a oportunidade de ter sido prefeito de nossa cidade e de representá-la por tantos anos no Congresso Nacional.
Quando entrei para a política, há quase 40 anos, foi pelas mãos do ex-deputado, ex-prefeito de Piracicaba e ex-vereador Francisco Salgot Castillon. Na época, ele estava de volta ao cenário político, dez anos após ter ficado inelegível – seu mandato havia sido cassado após o Golpe de 1964. E recebi um conselho valioso, que guardo até hoje: a ação política só faz sentido se for para melhorar a vida das pessoas.
Justamente por ter sido escolhido para representar a população de Piracicaba e região no Congresso, não poderia me ausentar em um momento tão crucial para nosso país. Permaneci em Brasília na terça-feira, dia 1º de agosto, para acompanhar a leitura do parecer da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e na quarta-feira participar da votação do pedido do Supremo Tribunal Federal para abertura de inquérito contra o presidente da República, Michel Temer.
Votei contra a corrupção, pelo prosseguimento da denúncia contra o presidente e contra o relatório da Comissão de Constituição e Justiça. Infelizmente, fomos voto vencido, mas sempre defendi que havendo qualquer denúncia contra alguém que se dispôs a ocupar um cargo público, deve ocorrer a investigação.
O meu voto buscou expressar a convicção de continuar na luta contra a corrupção e pela transparência na gestão pública. Acredito ainda que o julgamento pelo Supremo daria ao país a oportunidade de ver as acusações feitas pela Procuradoria-Geral da República serem esclarecidas. Com esse procedimento, a população brasileira seria a grande beneficiada.
Nestas ocasiões, lembro-me do filósofo político Norberto Bobbio, que afirmava que nas “Democracias, muitos são os eleitores e poucos os eleitos, mas todos os eleitores têm o direito de saber tudo sobre todos os atos dos eleitos e daqueles escolhidos por estes para gerir as coisas públicas”.
Vivemos um momento de crise. Crise política, ética, moral, social e econômica. O Le Monde Diplomatique diz que toda crise tem um fundo econômico. Não sei dizer se isso vale para o caso brasileiro.
O fato é que com leniência, começando pelo ‘rouba mas faz’, fomos generalizando e transformando o país numa imensa ‘casa de tolerância’ onde hoje há quem defenda a permanência do status atual, simplesmente porque a economia parou de piorar. É uma disposição do aceita-se tudo!
É preciso que haja um choque de moralidade e de ética, de respeito às coisas públicas, de consciência de que é nos municípios que as coisas acontecem e de que uma cidade só funciona bem se ela consegue atender minimamente as exigências de educação, saúde, segurança, habitação e mobilidade urbana da sua população.
Que possamos, como representantes eleitos pelos cidadãos, continuar contribuindo para o desenvolvimento de nossa amada Piracicaba e do nosso país.
Antonio Carlos Mendes Thame é deputado Federal pelo PV-SP, presidente do Capítulo Brasileiro da Organização Global de Parlamentares no Combate à Corrupção (GOPAC) e presidente da Frente Parlamentar Mista de Combate à Corrupção.
Publicado no Jornal de Piracicaba no dia 11/08/2017.